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Rachaduras, Trincas e Fissuras e : Guia de Patologia para Engenheiros

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Quando a Parede “Fala”

Na engenharia diagnóstica, costumamos dizer que a estrutura não fala, ela “sinaliza”. E o sinal mais claro de que algo está errado é o surgimento de aberturas na alvenaria ou no concreto.

Para o leigo, tudo é “rachadura”. Para o engenheiro civil, existe uma ciência exata por trás de Trincas e Fissuras. Saber identificar a causa raiz apenas observando o desenho da lesão é uma habilidade que separa os profissionais experientes dos amadores.

Neste guia completo de patologia, vamos classificar os tipos de aberturas, entender suas causas (térmicas, estruturais ou de materiais) e definir qual é a solução correta para cada caso. Atenção: tapar o buraco sem resolver a causa é jogar dinheiro fora.

Fissura, Trinca ou Rachadura? A Classificação Técnica

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Antes de diagnosticar, precisamos dar nome aos bois. A norma técnica classifica pela espessura da abertura (abertura lips):

  1. Fissura: Aberturas finas, até 0,5 mm. Geralmente superficiais (atingem pintura e massa corrida). Não costumam ter risco estrutural imediato, mas incomodam esteticamente.
  2. Trinca: Aberturas entre 0,5 mm e 1,5 mm. Já romperam a alvenaria e permitem a passagem de ar ou água. Exigem atenção pois podem indicar movimentação da estrutura.
  3. Rachadura (ou Fenda): Aberturas maiores que 1,5 mm. Aqui o vento passa e você vê o outro lado. Risco grave de estabilidade. Exige escoramento e visita urgente de um calculista.

O Diagnóstico Visual: O Que o Desenho nos Diz?

A forma e a posição da trinca contam a história do crime. Veja os 3 tipos mais comuns:

1. Trincas Verticais (De cima a baixo)

  • Causa Provável: Movimentação térmica ou sobrecarga.
  • Onde aparece: No meio de vãos de muros ou paredes longas que não têm juntas de dilatação (pilaretes). A parede expande com o sol e “rasga” onde é mais fraca.

2. Trincas Horizontais (Próximo ao teto)

  • Causa Provável: Flecha da laje ou viga.
  • Onde aparece: No encontro entre a alvenaria e a viga superior. Se a viga “selar” (deformar) com a carga, ela esmaga a parede embaixo, gerando a trinca horizontal.

3. Trincas Diagonais (A 45 graus) – PERIGO!

  • Causa Provável: Recalque de Fundação (Afundamento).
  • Onde aparece: Nos cantos de janelas e portas, ou nas extremidades do prédio.
  • O que significa: Uma parte da fundação cedeu (afundou) e a outra não. O prédio está “torcendo”. Essa é a patologia mais grave e exige reforço de fundação.

Fissuras de Retração: O Erro de Execução

Muitas vezes, a culpa não é da estrutura, mas do acabamento. Sabe aquelas fissuras que parecem um “mapa geográfico” ou “pele de crocodilo” no reboco? Isso é Retração Hidráulica.

  • Causa: Excesso de cimento na argamassa ou falta de cura (molhar) do reboco. A água saiu rápido demais e a massa retraiu.
  • Solução: Remover a pintura, aplicar massa acrílica e tela de poliéster, e repintar.

Como Monitorar? O Teste do Gesso

Você encontrou uma trinca. A pergunta de um milhão de reais é: “Ela está parada (passiva) ou crescendo (ativa)?”. Se ela estiver crescendo, você não pode fechar ainda.

Para descobrir, use o Selo de Gesso:

  1. Limpe um trecho da trinca (remova a tinta).
  2. Aplique um “band-aid” de gesso sobre a trinca.
  3. Anote a data.
  4. Volte em 15 dias. Se o gesso estiver quebrado, a trinca está “viva” (ativa). A estrutura ainda está se movendo. Não repare ainda; investigue a fundação.

Conclusão

Lidar com Trincas e Fissuras exige sangue frio e conhecimento técnico. O impulso inicial é sempre “passar massa e pintar”, mas isso é maquiar um câncer.

Como engenheiro, seu papel é investigar a causa raiz. Se for térmica, crie juntas de dilatação. Se for recalque, reforce a fundação. Se for retração, melhore o traço da argamassa. Resolva o problema, não o sintoma.

1 comentário em “Rachaduras, Trincas e Fissuras e : Guia de Patologia para Engenheiros”

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