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Descolamento de Cerâmica: Por Que Acontece e Como Evitar (Guia de Patologia)

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O Pesadelo do “Som Oco”

Você entrega a obra perfeita. Seis meses depois, o cliente liga dizendo que ouviu um estalo alto na sala e o piso “levantou”. Ao bater no chão, o som é inconfundível: som cavo (oco). Diagnóstico: Descolamento de Cerâmica.

Essa é uma das patologias mais onerosas da construção civil. O custo para reparar um piso solto é astronômico (quebrar, limpar, comprar material novo, reassentar), sem contar o dano à imagem da construtora.

Muitos culpam a “cola ruim”, mas em 90% dos casos, o erro é de execução ou especificação. Neste guia, vamos dissecar as normas NBR 13.753 e NBR 13.754 para entender por que os pisos soltam e como garantir que eles fiquem colados para sempre.

O Erro Número 1: Falta de Dupla Colagem

Pedreiro aplicando argamassa no verso do piso (técnica de dupla colagem) para evitar descolamento.

Se você só aprender uma coisa neste artigo, que seja isto: Peças maiores que 30×30 cm exigem Dupla Colagem.

  • O que é: Aplicar argamassa no chão (com a desempenadeira dentada) E TAMBÉM no verso da peça (tardoz).
  • Por que fazer: A dupla colagem garante que 100% do verso da peça esteja preenchido com massa. Se você aplicar só no chão, ficam “cordões” de ar vazios. Esse ar impede a aderência mecânica.
  • A Realidade: A maioria dos porcelanatos hoje é 60×60, 80×80 ou maior. Assentar essas peças com colagem simples é pedir para ter descolamento em menos de 2 anos.

O Erro Número 2: Escolha Errada da Argamassa (AC-I, AC-II, AC-III)

Não existe “argamassa universal”. O tipo de cola depende da absorção da peça e do local.

  1. AC-I (Interiores): Para cerâmicas comuns em quartos e salas. Ela cola por absorção (a cerâmica “bebe” a nata de cimento). Não serve para porcelanato.
  2. AC-II (Exteriores): Aguenta vento, sol e chuva. Tem polímeros que permitem certa flexibilidade.
  3. AC-III (Alta Aderência): Obrigatória para Porcelanatos, fachadas e pisos sobre pisos.
    • O Pulo do Gato: O Porcelanato tem absorção de água quase zero (< 0,5%). A argamassa AC-I não gruda nele quimicamente. Você precisa da química pesada da AC-III. Usar AC-I em porcelanato é economia burra.

O Erro Número 3: Ignorar as Juntas de Movimentação

O prédio se mexe. O concreto dilata com o calor e contrai com o frio. A cerâmica é rígida. Se não houver espaço para ela se mexer, ela estufa e solta.

  • Juntas de Assentamento: O espaço entre uma peça e outra (o rejunte). Respeite o que diz a caixa (2mm, 3mm). “Junta seca” é proibido por norma em áreas externas.
  • Juntas de Movimentação (Perimetrais): Nunca cole o piso encostado na parede. Deixe 1 cm de folga escondido pelo rodapé.
  • Juntas de Dessolidarização: Em grandes áreas (maiores que 32 m² ou corredores longos), você precisa cortar o piso e colocar um perfil de borracha ou poliuretano (PU) a cada 6 ou 8 metros.

Tempo em Aberto: O Inimigo Invisível

O pedreiro espalha argamassa em 5 metros quadrados e vai colando as peças devagar. Quando chega na última peça, a argamassa já secou superficialmente (criou uma pele). Ela não cola mais. Regra: Espalhe argamassa para, no máximo, 2 ou 3 peças por vez. Faça o “teste do dedo”: tocou na massa e não sujou o dedo? Retire e aplique nova.

Conclusão

O Descolamento de Cerâmica não é azar, é física. Se você respeitar a Dupla Colagem, usar a argamassa correta (AC-III para porcelanatos) e respeitar as juntas de dilatação, seu piso durará décadas.

Como engenheiro, sua fiscalização deve ser implacável: obrigue o uso da desempenadeira correta e verifique se o tardoz da peça está sendo “queimado” com argamassa. É chato cobrar, mas é muito mais chato (e caro) ter que refazer o apartamento de um cliente morando dentro.

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